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MACEIÓ VAI AFUNDAR?
MACEIÓ VAI AFUNDAR?

 

Bandeira de Maceió - Fonte: Wikipédia 

 ENTENDA O DESASTRE ENVOLVENDO A BRASKEM

Nos últimos dias, milhares de pessoas que moram em Maceió (AL) tiveram de deixar suas casas por conta do risco de colapso de uma mina de sal-gema que pertence à empresa petroquímica Braskem.

Embora a repercussão tenha aumentado nas últimas semanas, o problema não é recente e se arrasta pelo menos desde 2018. Afinal, Maceió vai afundar? Explicamos o que está acontecendo na cidade, o histórico de exploração do minério e quais as consequências para a população. 

FONTE: UOL

Por que Maceió está afundando?

O problema ocorre pela longa exploração de sal-gema na região, combinada com a localização das minas em uma área de falha geológica. A extração desse minério gera pontos de fragilidade no subsolo, que começa a ceder. É como se fosse formados grandes buracos nassas camadas que, se não são preenchidos, levam ao afundamento do solo. A partir disso os bairros da área afetada começam a afundar, pois parte da estrutura rochosa que lhe dava sustentação foi retirada pelo processo de mineração. 

Bairro do Mutange, em Maceió - (Maria Erlich/Bloomberg/Getty imagem)

Especialistas afirmam que ainda será necessária uma longa investigação para entender como a situação chegou a este ponto, mas que, definitivamente, o agravamento da situação não tem um fundo somente natural. Provavelmente houve atraso ou inadequação nas medidas de prevenção do ocorrido.

A EXPLORAÇÃO HISTÓRICA DE SAL-GEMA EM MACEIÓ 

A situação que Maceió enfrenta hoje tem origem em décadas atrás. Desde os anos 1970, diferentes empresas, com liderança da Braskem no período mais recente, vêm extraindo sal-gema do subsolo de bairros da cidade. Essa extração intensiva e prolongada, especialmente em áreas de falha geológica, vai deixando buracos no subsolo. Esses buracos se transformam em cavernas artificiais e as paredes entre essas cavernas começam a ceder - o que também acontece com a estrutura rochosa como um todo. 

Em 2018, isso começou a resultar em rachaduras e afundamento do solo, afetando principalmente os bairros de Pinheiro, Mutange e Bebedouro, e deslocando milhares de pessoas até chegar na situação atual. Já foram mais de 60 mil pessoas removidas da região, que hoje está próxima de um colápço. 

O que é Sal-Gema e como é realizada a sua extração 

Para começar, é importante saber que tudo que se chama ‘gema’ é minério. O sal-gema é o minério de sal, ou seja, é um minério de NaCl (cloreto de sódio). Também chamado de halita, ele é encontrado em jazidas subterrâneas formadas a partir da evaporação do oceano. Como explica o professor Pietro Escobar.

No Chile, o sal-gema é extraído do deserto; aqui no Brasil, é extraído das minas, localizadas principalmente em estados da região Nordeste como Alagoas. Essa matéria-prima é usada pela indústria química na produção de soda cáustica e bicarbonato de sódio, além de produtos de limpeza e higiene. 

Tawatchai/freepik/Reprodução)

A extração do sal-gema pode ser feita de diferentes maneiras. Quando o minério está em uma região mais profunda e já existem bairros ou outras ocupações em cima das áreas a serem exploradas, a extração ocorre por meio de túneis. Eles são escavados e recebem água para dissolver o sal-gema, posteriormente bombeado esse material dissolvido para a superfície. Era isso que a Braskem fazia. 

O problema é que esses túneis precisam, depois, ser preenchidos com areia, o que nem sempre é feito de maneira adequada. Cria-se então uma situação de muita instabilidade nos solos — especialmente quando por cima desse local existem edificações pesadas, como casas, prédios e avenidas, além da passagem de máquinas, tratores ônibus.

Segundo Augusto Neto, autor de geografia do Sistema de Ensino pH, a melhor forma de explorar sal-gema sem causar tragédias envolve duas ações: um monitoramento geológico preciso e meticuloso, buscando evitar áreas com falhas tectônicas, e o preenchimentos das cavidades que são criadas pela extração, evitando que o solo ceda.

“Para evitar esse cenário, essas cavernas deveriam ter recebido areia, mas das 35 minas da Braskem, só 5 foram preenchidas pela empresa. Isso significa que a grande maioria ficou fragilizada. Em 2019, a extração foi paralisada, mas o processo de afundamento continuou e se aprofundou nas últimas semanas".

UFAL/Reprodução)

QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS?

O principal dano causado pelas minas da Braskem em Maceió é humano. Mais de 60 mil pessoas já foram deslocadas às pressas, abandonando seus lares e bairros inteiros. Os custos para relocação, indenizações, aterramento e reconstrução de imóveis é imensurável. Em entrevista à BBC Brasil, uma moradora que ainda morava no bairro de Mutange contou que foi despejada às pressas na madrugada da última quinta-feira (30). Ela ainda não havia deixado a região porque considerou a oferta de indenização da Braskem muito baixa da avaliação.  

“Esse movimento de remoção forçada das pessoas é muito grave porque já se trata de um bairro onde vivem pessoas socioeconomicamente vulneráveis”, afirma Luis Felipe Valle, professor de Geografia. "Ou seja, a maioria dessas pessoas não têm recursos financeiros para comprar ou alugar casas em outro lugar, para se sustentar e se manter, por exemplo, em um hotel. São pessoas que têm limitações financeiras e não é apenas sair de casa - é uma questão que envolve a escola das crianças, o local do emprego, e deixar pra traz um lar, uma história, um lar".

O caso da Braskem em Maceió é mais um exemplo de crime ambiental no Brasil, assim como o rompimento de barragens nas cidades de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais. Luis Felipe reforça que não se tratam de acidentes, pois as grandes companhias envolvidas nesses casos em geral sabem dos ricos envolvidos e do potencial de tragédias como essas acontecerem. 

“A crise em Maceió não é a primeira, e infelizmente não deve ser a última desse tipo, e ela destaca a importância da gestão responsável dos recursos naturais e da prevenção de desastres ambientais. É urgente que todas as empresas compreendam, além das óbvias questões éticas, que esse tipo de despesa não é gasto, mas um investimento”, completa Augusto Neto, autor de geografia do Sistema de Ensino pH.

Cibele Tenório/Agência Brasil) 

GUIA DO ESTUDANTE - POR JULIA DI SPAGNA